domingo, março 26, 2006

Hoje deixo-vos...



Hoje deixo-vos palavras sábias...se assim as entenderem!!

quarta-feira, março 22, 2006

La Loba...

Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sabem, mas que poucos já viram. Como nos contos de fadas da Europa Oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.

Dizem que ela vive entre os declives de granito decomposto no território dos índios tarahumara. Dizem que está enterrada na periferia de Phoenix perto de um poço…
Ela é conhecida por muitos nomes: La Huesera, a mulher dos ossos; La Trapera, a trapeira e La Loba, a mulher-lobo.
O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de se perder para o mundo. Sua caverna é cheia de ossos de todos os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Dizem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montañas e os arroyos, leitos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela senta-se junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura, ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de carne, e que a criatura começa a se cobrir de pêlos. La Loba canta um pouco mais, e a criatura lobo começa a respirar.
E La Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atravessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transformado numa mulher que ri e corre livremente na direcção do horizonte.
Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo deserto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco perdido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode simpatizar com você e lhe ensinar algo - algo da alma.

Todos nós começamos como um feixe de ossos perdido em algum ponto no deserto, um esqueleto desmantelado que jaz debaixo da areia. É nossa responsabilidade recuperar suas partes. Trata-se de um processo laborioso que é mais bem executado quando as sombras estão exactamente numa certa posição, porque exige muita atenção. La Loba indica o que devemos procurar - a indestrutível força da vida, os ossos.

Cantar significa usar a voz da alma. Significa sussurrar a verdade do poder e da necessidade de cada um, soprar alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração. Isso se realiza por meio de um mergulho no ponto mais profundo do amor e do sentimento, até que nosso desejo de vínculo com o Self selvagem transborde, e em seguida com a expressão da nossa alma a partir desse estado de espírito. Isso é cantar sobre os ossos.

Clarissa Pinkola Estés - "Mulheres que correm com os lobos"

terça-feira, março 21, 2006

Impermanência...



É dia de ser noite. É hora de não ter tempo.
É a saída quando ainda não sei por onde entrar.
É o mar em chamas que corre devagar!
É a minha vez quando já não há lugar.
É um lugar infinito neste grão de areia que ficou a voar!
É uma mão vazia que apenas soube amar.
É um olhar que de tão cego continua a procurar!
Talvez o tempo se esqueça das horas onde a minha alma morava
ou quem sabe dos minutos onde a ternura descansava!

É este o segundo que faz de mim rio fluido em mutação, vivo…
Nunca serei lago!!!

quinta-feira, março 16, 2006

Agarro o invisível...



É a manhã nas minhas mãos,
um começo verbal vestido de maresia…
São filmes nos meus olhos a estrear
e o mundo que se senta esperando sonhar.
É o vento nos meus pés
que brinca e rodopia
descobrindo caminhos ainda por desenhar.
São pássaros que planam em esperas tensas!
São simples flores do mato
que repousam na ausência de olhares!
Agarro o invisível que perfuma o ar
e deixo-me moldar!

sexta-feira, março 10, 2006

Metamorfose...



Hoje fiz nascer o silêncio!
Apaguei as melodias que invariavelmente me consolavam,
me transportavam num afã ditoso para outras paragens.
Mas, apenas miragens!!
Desejei labirintos e dirigi meus passos.
Tornei-os descalços! De imagens e diálogos! De passado!
Ignorei o medo.
O presente vestiu-me a pele e desci por ela.
Devagar, num conhecimento de quem é dono do tempo.
Numa explosão de quem nasce!
Numa aflição de quem esqueceu o nome!
As palavras, essas, já não têm vogais e consoantes, género ou número. Apenas são vento e nunca sei onde estão!
Desci mais!!
Descobri-me pedra e fundo de mar, até tempestade de areia à procura de lugar para descansar.
Enfim…
adormeci nesta pele de universo que não tem princípio nem fim!!!!

quarta-feira, março 08, 2006

Filho...



O sentido em que me perco
é talvez redondo!
De uma dimensão infinita
que começa em mim
e em mim termina!
No meu centro,
seja ele luz ou escuridão,
estás Tu!
tão íntimo e profundo que te respiro.
Nas minhas inspirações
tu circulas levando vida num murmúrio lento,
sem dúvidas!
Cada vez que expiro
voas de mim em liberdade de brisa
que alcança os céus!
Dás-me o sol e a lua para percorrer!
Deixas-me nascer!

segunda-feira, março 06, 2006

É este o mantra...



É este o mantra das folhas perdidas…
É esta a fé das estrelas apagadas,
Deste mar sem ondas, destas mãos sem toque!
É aqui o lugar sem estradas
Vai ali o homem sem passos
Adormece assim esta sombra que não é minha
Mas que a mim foi obrigada!
Já partiu agora mesmo esta melodia sem rumo, desorientada
E Tudo regressa ao Nada!



Posso ainda
Quando nada
Ainda que tudo

Em mim
De mim

Num círculo perfeito
Num labirinto sagrado
Deus

domingo, março 05, 2006

Será possível...



Esgota-se o tempo
e adormeço a vontade em cama gigante
forrada de sonhos ao acreditar!
Já não existem vozes,
nem palavras soltas,
nem flores para cuidar!
Existe o eco,
uma folha branca
e uma ferida por sarar!

Já morreu a esperança em noite de luar…
talvez a madrugada seja fria
e a brisa escolha outro lugar…
ou apenas os meus passos se ouçam a caminhar…
Não serei mulher,
nem homem,
apenas criança a brincar…

Sairão as pombas e será possível o céu saudar!